quarta-feira, 14 de março de 2012

Posted by Victor Bastos | File under : , ,
A sociedade nada mais é do que uma armadura, adornada por falsas pedras preciosas que recebem nomes como "moralismo", "bons costumes", dentre outras nomenclaturas. Que tal repensar um pouco desse aspecto? Será que os homoafetivos, por exemplo, pensam que a sociedade está aí para apoiá-los? E será que está mesmo? Hora de repensar alguns valores que regem nosso estrato social.

Não é segredo para ninguém que a sociedade é dinâmica. Por mais que tentemos entender e acompanhar as mudanças que se sucedem, torna-se difícil de discernir o antes e o depois. Isso é explicado pela Antropologia: por estarmos acostumados com a nossa própria cultura, toda mudança a ela atrelada é percebida de maneira muito sutil, e rapidamente é integrada à sociedade como algo rotineiro. Resultado: para percebermos mudanças significativas, o espaço de tempo a se avaliar tem que ser relativamente bem grande. Um exemplo disso está no choque de ideias entre as gerações: com certeza nossos pais pensam de maneira diferente da que pensamos, e com certeza nossos filhos também pensarão diferentemente de nós.

Até aí, é simples: estamos acostumados à nossa própria cultura, e todas as mudanças nela nós incorporamos como algo rotineiro. Porém, e quando a mudança for tão significativa que é um prenúncio de uma nova consciência social?

Fazendo uma viagem no tempo de volta às décadas de 1950 e 1960, por exemplo, talvez a visão que hoje, em 2011, temos das mulheres na praia de Copacabana, fosse, à época, algo tido como ultrajante. Para a cultura da época, estar em Copacabana cercado de mulheres de biquíni seria algo impensável, inclusive reprimível (lembram do famoso presidente Jânio Quadros, que dentre outras medidas proibiu os biquínis em certos casos? Imagine o que ele diria do Rio de Janeiro e outras cidades litorâneas hoje em dia).

Entretanto, todas essas mudanças pelas quais passamos nós fomos capazes de incorporar com certa facilidade. Não foi difícil (mas sim custoso) sair da rotina do ar livre e passar a conviver com a computação, assim como também não foi difícil (novamente, mas sim custoso) sair da infância regada a ioiô e do pião às horas acompanhado de Mario, Luigi e as demais personagens da Nintendo. A nossa cultura foi capaz de adquirir todos esses novos traços simplesmente por ser uma tendência comprovada: a tecnologia, afinal, avançava exponencialmente, e era somente questão de tempo para que fosse universalizada, por assim dizer.

Mas a mudança que trago aqui para refletir (e criticar a sociedade, não só brasileira, mas tantas outras), não está ligada a um hardware promissor. A mudança que aqui trago para debater não está ligada a uma nova moda. Uma mudança está ocorrendo, e ela envolve algo muito mais complexo do que tecnologia: envolve concepção humana.

O crescente número de manifestações e oficializações relativas aos casais homoafetivos significam uma mudança que veio para ficar. Entretanto, a sociedade não está se mostrando capaz de lidar com as mudanças da maneira que era esperado. Não que seja uma mudança radical no sentido de extrema, pois admitamos: é algo que deveríamos ter a capacidade de aceitar tranquilamente. Entretanto, existe uma espécie de choque de forças sociais, num tremendo embate, o que torna o cenário dos reconhecimentos caótico.

Explica-se: quando se fala em choques de forças sociais, diz-se respeito a embates de focos de ideologias. Uma amostra desse choque de forças sociais (regadas a ideologias fortemente nessas forças enraizadas) encontra-se, de maneira curiosa, nos nossos plenários. Fugindo um pouco ao rumo da questão dos casais homoafetivos, podemos citar a situação das correntes religiosas nas Casas da área política. Parece novidade ver o setor evangélico querer impor ideologias religiosas no teor das nossas leis? Claro que não. E aí mora a pergunta: mas o Estado, conforme prediz a nossa Constituição, não é laico? Se o Estado é laico, o elemento religioso não pode estar ligado às instituições e bases estatais. Assim sendo, por que é permitido que o ideal religioso ainda seja centro de tantas polêmicas políticas? A resposta para isso é simples: a religião, por ser um costume à nossa cultura intrinsecamente ligado, está disseminada de maneira ampla, e acabamos por errar (sim, errar) em achar que ela pode existir em todas as esferas da nossa convivência. O choque entre essa errada premissa e os dizeres da nossa norma fundamental são um exemplo de conflito de forças sociais.

Voltando à questão dos homoafetivos. A História mostra que a chegada de novas ideias não é sempre fácil. Quanto mais “revolucionária” a ideia nova for, mais perigoso será a sua adequação aos costumes de determinada sociedade. Imaginemos uma sociedade extremamente conservadora vendo uma verdadeira explosão ao redor do mundo de manifestações em prol de algo que eles discordem. Em outras palavras: tentemos imaginar o que o Vaticano tem a dizer sobre essa chegada massiva dos pró-homoafetivos. Sem perguição ao elemento religioso, afinal sou católico. Porém, a religião (ou pelo menos uma maioria absurda delas) é contrária a essa ideia de uma liberalização da condição de homoafetivo. Sendo o elemento religioso algo muitíssimo arraigado à sociedade e aos costumes da sociedade brasileira, temos aí o palco montado. De um lado, os pró-homoafetivos, adeptos de uma sociedade com uma base reformulada. De outro, aqueles conservadores, ligados às suas crenças tradicionais que, majoritariamente (ou quase por unanimidade), condenam esse tipo de pensamento.

De onde é que veio o pensamento de que cada um de nós é melhor do que o outro a ponto de querer sobrepor a vontade e ideologia? Por incrível que pareça, vem da natureza: o ser humano é o animal mais egoísta de todo o complexo reino animal. Filosofica e sociologicamente isso é fácil de se verificar, pois até a própria existência do Direito é uma evidência desse caráter irresponsável do homem enquanto ente.

Isso aí é somente avaliando uma única esfera do ser humano em sociedade. Será que seria a mesma coisa se fosse avaliado individualmente? Talvez não, e a explicação é simples: o ser humano, isento do senso de reprovação social, passa a ser mais adepto de ideias diversificadas. Daí advém a ideia de um homem mais "humano" no sentido central da palavra quando está por conta própria, pensando com seus próprios botões, alheio às firulas sociais.

Mas e quanto às camadas sociais liberais, aquelas que estão em prol do homoafetismo? Estariam certas, ou seria um erro futuro tal apoio? Cada perspectiva possui uma resposta para essa pergunta. Sob o foco de luz da "solidariedade humana" e do conceito de harmonia social, estão certíssimos. Afinal, uma sociedade humana deve apresentar coesão e laços equilibrados (ao menos em teoria) o suficiente para manter esse agrupamento estruturado. Já no que tange a perspectiva da vanguarda de valores, ocorre um problema: os valores predominantes na sociedade atual não são, em todo, condizentes com os que seriam construídos a partir da aceitação. Ainda há, inclusive, muito preconceito a ser vencido. E esse preconceito está inerente em nós mesmos. Um exemplo: de 10 pessoas, talvez 4 ou 5 pensariam que uma criança criada por um casal homoafetivo, seja ele composto por dois homens ou duas mulheres, seria capaz de crescer sem sofrer efeitos por conta disso. Os demais pensariam que alguma "sequela" seria deixada. Em outras palavras, por conta de uma pressão social, passamos a ter uma ideia de que a família é composta, obrigatoriamente, por pessoas que encaixam-se no perfil socialmente aceito para tal, quando na verdade sabe-se que existem casos e casos: há casais homoafetivos muito mais capazes de cuidar de uma criança do que muitos casais heterossexuais por aí, que, assolados por males diversos (e por vezes alheios à sua vontade), seriam comprometidos com relação à capacidade da criança se desenvolver (ausência em demasio, não ser modelo de valores, descaso com a criança, e assim vai).
 
No final das contas, resta um diapasão: sociedade x senso social. Existe grande diferença entre um e outro, e talvez nunca alcancemos plenamente esse último. Mas quem sabe? O ser humano evoluiu da roda ao carro, e do carro ao ônibus espacial. Evoluímos em questão tecnológica, e agora estamos à beira de uma revolução ideológica. E então, será que vai?
 
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A polêmica vai aparecer, e disso tenho certeza. O intuito desse texto não foi o de conturbar entendimentos religiosos, costumes ou desrespeitar quaisquer crenças e entendimentos. A questão aqui posta é: a sociedade se julga conhecedora de si e justa por concepção. Onde está a justiça quando dois homens são confundidos com um casal homoafetivo e, por isso, são atacados? Há muito a se pensar. E é com isso na cabeça que convido os queridos leitores a se manifestar. Qual é o seu posicionamento frente às uniões homoafetivas?

 

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