segunda-feira, 12 de março de 2012

Posted by Victor Bastos | File under : ,
Anda.
Anda.
Anda.
Aperta.
Abre.
Senta.
Fecha.
Liga.
Pisa.
Gira.
Pisa.
Pisa.
Pisa.

Verbos incessantes, apesar de repetitivos. A rotina se instaurou. O fardo de uma sociedade que se julga moderna se coloca à minha frente como parte que preciso associar se quiser viver nos conformes deste amontoado de pessoas enlouquecidas. Mefistófeles¹ bem diria que fomos avisados e trouxemos para nós mesmos tal madição. Que poderíamos fazer?

A loucura não é tão ausente quanto se pensa. Passo por duas colisões, em ambas o calor do momento se eleva. Um segundo a mais e poderia terminar em tragédia. A vida deixa de ter significado, e o tempo em tanto se acelera que ele passa a ser o centro de tudo. Que seja posto de lado o "ser" humano efetivamente. Que também seja posto de lado o modo de ver semelhantes como semelhantes, pois nada são se em nada podem contribuir para nosso lucro pessoal. Não é nisso que pensamos, no final? Fadados ficamos a este destino. Aquele que pensa mais nos que o rodeiam do que em si mesmo se torna um pária perante a sociedade, e o próprio coletivo pressiona o indivíduo para que ele se adeque. Nasce ou um líder ou um suicida. O que nos tornamos? Não mais a vontade de ter sucesso nos norteia, mas tão somente o desejo de escapar das crueis amarras de um mundo cada vez mais alienado e materialista.

O caos parece nos cercar, e só o que podemos fazer é tentar sobreviver.

Ligo o aparelho de som e sintonizo a rádio, busco informação. Mortes, estupros e brigas nada descubro senão. No veículo ao lado, uma mulher conversa ao celular, aparentando estar impaciente. Acabei de passar por mais uma colisão. A terceira em 40 minutos. Chego em casa para ouvir que só fiz escolher o caminho mais confuso.

Talvez não. Escolhi o mais realista.

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¹ Ser demoníaco retratado na obra de Goethe "O Fausto", responsável por convencer a personagem principal a compactuar pelo progresso.

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