quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Posted by Victor Bastos |
Eu tinha apenas 11 anos de idade quando me maravilhei com a notícia. Uma sonda que percorreria bilhões de quilômetros para pousar em um cometa? "Parece Armageddon", eu lembro de ter pensado em algum momento. Com a clara vantagem de não se tratar de um evento devastador para a vida na Terra.

A ficção científica foi deixada de lado na minha cabeça, de vez, naquele março de 2004. Embora eu já fosse muito bem familiarizado com leituras de - principalmente - Astronomia e Física, graças ao grande acervo da biblioteca da escola onde estudava à época (Colégio Dom Bosco), duvidava muito da capacidade de ver, tão cedo, as grandes agências especiais (NASA e ESA) alçarem voos literalmente "tão altos". 



Ledo engano. A Rosetta e seu histórico robô Philae (que, no dia de hoje, tornou-se o primeiro objeto construído pelo homem a pousar em um cometa) ensinaram que os limites para as conquistas e triunfos da Ciência não existem. Podemos parecer caminhar a passos lentos, mas estamos, em verdade, à toda velocidade. Os sonhos de incontáveis admiradores do ceu e da magnificência do Cosmos que nos cerca, dia após dia, convertem-se em realidade. E as provas do poder benéfico da criação do homem não custam a aparecer.

Quanto mais olhamos para o alto e investigamos o que nos cerca, para mais longe da ignorância caminhamos. A medida do sucesso é diretamente ligada à perseverança de quem busca ampliar os limites do que conhecemos. E, hoje, a sonda da ESA criou mais um marco histórico, não apenas digno de nota, mas digno de aplausos: mais um marco para a grande lista de conquistas que, à sua forma, contribuem para humanidade mais consciente e um saber mais rico; resta a nós, observadores, reconhecermos a fantástica caminhada que tem sido realizada pela Ciência em nome da sapiência.

Em 12 de novembro de 2014, não é apenas aquele garoto de - outrora - 11 anos de idade que se maravilha e vê o resultado pelo que tanto esperava. Somos todos nós, apaixonados pelo saber e pela busca incessante e esperançosa da verdade dos fatos, e pelo senso crítico e cético que guia os fatos mais construtivos da História da civilização humana.

Por 10 anos de expectativas e, hoje, de alegrias: muito obrigado a cada um dos que contribuiu para este momento.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Posted by Victor Bastos |
O papel das lideranças sociais, em meados do século XXI, tende majoritariamente a ser exercido por aquele que se apresenta com maior popularidade e resposta perante os anseios da sociedade, representada – em termos de democracia – por uma maioria que nesse indivíduo deposita sua confiança em comandar o Estado.

Soa, sem dúvidas, poético: uma sociedade supostamente madura decidindo os próprios rumos, julgando quem melhor surge para governá-la por um período vindouro e determinado, bem como dando o seu aval para as decisões que manifeste de maneira prévia aquele que almeja o papel da liderança – hoje em dia, por meio de debates e propaganda eleitoral, como o caso brasileiro.

A dicotomia que pode vir a surgir, porém, da corrente ideológica que defende os moldes atuais, não é de todo fácil de ignorar. Se a maturidade social atinge, com o regime democrático, o atual ápice de qualquer sociedade organizada, de maneira que seja o regime mais desejável e admirado, onde exatamente passa a residir a escusa para falhas sucessivas daqueles que regem a máquina pública? Será que a própria democracia é, em si, hábil por natureza a ponto de não estar sujeita a críticas em torno daqueles que dela se usam para catapultar-se em direção ao poder?

Vale sempre rememorar as palavras de Norberto Bobbio acerca da democracia enquanto regime, ao que aborda:

“[...] por democracia entende-se uma das várias formas de governo, em particular aquelas em que o poder não está nas mãos de um só ou de poucos, mais de todos, ou melhor, da maior parte, como tal se contrapondo às formas autocráticas, como a monarquia e oligarquia.”

Permito-me, nesta análise, fazer uma citação de Cláudio Reis (Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho  e Doutor em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas), que, em específico ao caso brasileiro, aborda:

Desde 1988, foi estabelecido no Brasil o chamado Estado Democrático de Direitos. Essa maneira específica de definir a democracia corresponde ao seguinte pressuposto: somente serão incluídos em sua esfera de atuação aqueles contemplados por determinados direitos, legitimados a partir da norma jurídica. E é justamente neste sentido que a atual Constituição Federal parece trabalhar, isto é, pela inclusão do maior número possível da população do país. De qualquer modo, devido a essa característica é cada vez mais observável, na realidade efetiva, uma certa corrida às leis por parte dos setores ainda desprotegidos pela Constituição. Afinal, ter uma lei em seu benefício pode, em alguns casos, ser a condição de uma vida digna. Portanto, viver em um espaço democrático no Brasil, significa possuir direitos.

Embora seja necessário o discernimento, logo de pronto, entre o Estado Democrático e o instituto “democracia”, ambos se correlacionam na esfera material, em específico na maneira como, via de regra, possuem materialização na vida prática e na institucionalização perante as sociedades. O caso brasileiro entende democracia, na maioria dos casos (e conforme bem apontado pelo Dr. Cláudio), no campo de titularidade de direitos pelos cidadãos. Inclusive não seria possível algo diferente, vide o porte magnânimo do art. 5º da Carta constitucional pátria.

É curioso que o exercício interpretativo acerca da democracia brasileira tenda muito ao “possuir direitos”, como se tudo pudesse ser dado como garantido uma vez que o Estado assuma uma postura pró-algo. Ora, é evidente a distância entre teoria e realidade, entre texto constitucional e vivência cotidiana. E embora não vá perder tempo em abordagens epistemológicas (como a ridícula insistência esquerdista em propor o conflito burguesia x proletariado, como se até mesmo esses nomes fossem algo aplicável à realidade atual), não é errado admitir que exista, para um país regido por tão belas metas de igualdade social, um abismo notório entre o almejado pela Constituição e seus idealizadores e o dia-a-dia, por exemplo, de grupos discriminados à margem das conquistas sociais.

Há, portanto, um aspecto que, a meu ver, tem sido deixado de lado quando pensamos no futuro do país: como lidar com o constante afastamento do aclamado pela Carta Magna como ideal para o Estado brasileiro e a realidade resultante de sucessivas políticas socioeconômicas que apontam dias nada fáceis para todos os conterrâneos tupiniquins. Onde está o ponto de conexão entre o texto e o fato? Quem – ou o quê – pode servir como instrumento de concretização do que hoje reside na esfera do vir a ser dos frios papeis da Constituição?

Entendo tratar-se de um papel que incumbe, evidentemente, às lideranças do Estado brasileiro. Ao elegermos o regime da democracia representativa, deixamos claro o recado de que enviamos a Brasília aqueles que passam a ter o papel de gerir o Estado de forma a alcançar uma prosperidade e evolução dignos das metas constitucionais. Permito-me até mesmo ser menos ambicioso nesse sentido e reescrever a frase acima de outra forma: “deixamos claro o recado de que enviamos a Brasília aqueles que passam a ter o papel de gerir o Estado de forma a alcançar uma razoável correspondência com as necessidades pelas quais a sociedade brasileira passa”.

Não apenas se está vivendo, porém, um evidente problema nessa expectativa. Há uma clara perda de confiança no próprio modelo adotado. Como bem aborda Karla Manfredini:

“[...] o que tem se vivenciado no Brasil é a crise desse modelo. Os representantes já não representam o povo; este, por sua vez, já não se interessa pelos assuntos políticos. O número de partidos cresce, mas as ideologias continuam as mesmas, e, o poder legislativo ainda não logrou sua independência, continua a operar com preponderância do executivo”.

Além de toda a carga de engajamento aparente que tomou o Brasil (em especial as redes sociais) nas eleições recentes, com forte tendência à defesa da alternância de poder na figura do senador Aécio Neves (PSDB-MG), pergunta-se: onde está, de fato, o interesse nacional na política?

A resposta é a mesma à qual chegou Manfredini: o interesse, via de regra, não está em lugar nenhum.

Acredito que a interpretação acerca do conceito de política não passa exatamente pelos eventos de natureza política (comícios, eleições, etc.), mas pela própria dialética que rege o desenvolvimento de uma sociedade e os meios pela qual alcança-se uma prospecção tal que exista coesão da conjectura institucional e social. Por este aspecto, há um afastamento notável da realidade brasileira, principalmente considerando-se o próprio estigma que permeia a sociedade tupiniquim, que “política não se discute” – este, talvez, o erro mais grotesco no qual uma população possa incorrer.

O quadro não é dos mais positivos: de um lado, representantes que cada vez menos representam seus eleitores. De outro, eleitores que menos se interessam na dialética e no longo prazo estatal e mais se importam com a manutenção das suas regalias ou estilo de vida (o que inclui as famigeradas bolsas e auxílios governamentais). Isso para sequer adentrar o mérito da cada vez mais clara falência do modelo partidário atual (vide a governabilidade federal passar, quase obrigatoriamente, por uma aliança com legendas como o PMDB).

Onde estão, nesse meio, as lideranças que a sociedade requer para levar adiante o país? No Planalto é que não estão.

Permito-me uma – agora – digressão, mas que ilustra muito bem onde, penso eu, reside a solução a médio e longo prazo para o Estado brasileiro: a alegoria do mito da caverna de Platão.

De acordo com essa alegoria, há prisioneiros (desde o nascimento) que vivem presos em correntes numa caverna e que passam todo tempo olhando para a parede do fundo que é iluminada pela luz gerada por uma fogueira. Nesta parede são projetadas sombras de estátuas representando pessoas, animais, plantas e objetos, mostrando cenas e situações do dia-a-dia. Os prisioneiros ficam dando nomes às imagens (sombras), analisando e julgando as situações. Em determinado momento, um dos prisioneiros é forçado a sair das correntes para poder explorar o interior da caverna e o mundo externo, entrando em contato com a realidade e percebendo que passou a vida toda analisando e julgando apenas imagens projetadas por estátuas. Ao sair da caverna e entrar em contato com o mundo real, fica encantado com os seres de verdade, com a natureza, com os animais e etc. Volta, assim, à caverna, para passar todo o conhecimento adquirido fora da caverna para seus colegas ainda presos. Porém, é ridicularizado ao contar tudo o que viu e sentiu, pois seus colegas só conseguem acreditar na realidade que enxergam na parede iluminada da caverna. Os demais prisioneiros o chamam de louco, ameaçando-o de morte caso não pare de falar daquelas ideias consideradas absurdas.

A conjectura social brasileira não se afasta muito, enquanto analisado o conhecimento e interesse na política, da alegoria de Platão. Não é segredo que o analfabetismo funcional é marcante, e não apenas em um ou outro estrato socioeconômico. Há quem propague a ignorância de peito aberto, ou quem não se sinta culpado por se deixar usar, militando de maneira alucinada mas sem a menor noção de consequências do que defende.

Eis que a resposta passa a residir não nas lideranças que se apresentam atualmente ao poder da União, mas nos – ainda pouco – que se dispuseram a sair da caverna de Platão, explorando e descobrindo as informações vitais que todo cidadão funcional demanda para o pleno exercício do regime democrático num Estado de demandas tão urgentes quanto o brasileiro (ouso dizer, inclusive, que em qualquer Estado que aspire a algo além da passividade no cenário global).

Infelizmente, a própria conjectura social brasileira apresenta repulsa ao esclarecimento: ainda vivemos numa sociedade que celebra o “jeitinho malandro” em detrimento da ética e da inteligência – e não adianta querer negar, isso é a nossa realidade. Embora isso constitua mais uma barreira, é uma espécie de responsabilidade daqueles que possuam o conhecimento adquirido de amadurecer os que os cercam de forma a amplificar o alcance do aprendizado, celebrando a informação e atingindo e beneficiando aqueles que dela não dispõem.

Notem que não me refiro de uma obrigatoriedade, embora use a palavra “responsabilidade”. Até porque, se celebramos a liberdade, obrigações impostas por uns a outros estão longe de ser sinônimo de “ser livre”. A espontaneidade dessa “prestação de esclarecimento” é traço fundamental do que realmente necessita a sociedade brasileira, de maneira que rompa as barreiras dos preconceitos que atualmente nutrimos e amplifique o alcance do senso crítico na vida política exercida por todos, desde eleitores a candidatos. E essas medidas passam desde a fiscalização dos atos praticados pelos representantes já eleitos até as campanhas acadêmicas que disseminem o estudo e a curiosidade dos cidadãos pelo exercício político.

Evidentemente isso passa pela quebra de certos paradigmas e a abertura ao debate franco e completamente aberto, o que será tiro-e-queda para várias ideologias falidas oriundas do marxo-keynesianismo, mas é algo que deve ser iniciado pelo menos na proporção em que fomente a curiosidade da população em geral pelos assuntos relevantes à governança brasileira. Além disso, destarte isso pode implicar em um esforço descomunal por parte dos que aceitarem o desafio, pois as barreiras ideológicas estão por toda parte, e o preconceito com ideias liberais é grande, consequência de anos e anos de doutrinação marxista nas Academias. Contudo, como dito acima, prossegue sendo um desafio a ser vencido.

Não se pode deixar abater pelo estigma de “elitismo” quando se fala do esclarecimento enquanto ferramenta (há esse paradigma em algumas camadas sociais); deve-se usar do conhecimento não como instrumento para doutrinação de uma suposta verdade única, mas de catapulta para a dialética e o franco enfrentamento de ideias, amadurecendo as concepções vigentes na sociedade atual.

Enquadrar-se nesse perfil dos “verdadeiros elementos de mudança” não demanda um currículo cheio de graduações e mestrados, mas sim uma predisposição acadêmica e a vontade de levar o conhecimento adiante. É difícil, mas não impossível, exercermos uma missão na qual o Estado – quer por omissão ou por falta de competência – falhou miseravelmente. E pode ser mais prático do que parece: já pararam para imaginar a diferença que pode fazer a adição do tópico “política” na leitura diária de todos por meros 10 minutos? A inclusão do hábito de acompanhar jornais e refletir sobre o que eles noticiam? O fomento às conversas informais? A reunião de grupos de estudos nas universidades? As iniciativas de feiras e seminários nas escolas? Tudo isso é muito real. Está ao alcance de todos que queiram se engajar na iniciativa.

Política se discute, sim. E decide os rumos não apenas das nossas finanças, mas também as estratégias que deveremos adotar para assegurar uma melhor criação de nossos filhos. Um esforço de hoje será refletido no devir dos anos, de uma maneira que nem o mais otimista dos analistas pode prever. Tudo passa a depender da nossa própria vontade de engajamento. E, neste aspecto, declaro-me mais do que aberto aos debates, como sempre fui, e desejoso de fomentar essa dialética em busca de disseminar o conhecimento, na medida do possível.

É com esta meta que passo a convidar a todos não de maneira formal a uma solenidade, mas sim informalmente a um compromisso: incentivar o conhecimento e o debate.

Lembremos que há pessoas que nunca sequer possuíram um aparelho celular (do mais simples que seja) e não sabem assinar o próprio nome, e que caem nas falácias com as quais convivemos diariamente. Eles acreditam que a vida esteja ideal como está. Que tal mostrarmos a eles rumos para que seja ainda melhor do que isso? Demonstrar que ambição não é ruim; que enriquecer não significa avareza; que estudar não significa elitismo ou caretice; que assistir jornais não é “apenas ver desgraça”. Tudo isso e mais um pouco.


Se você não quer entrar na política como um agente direto, pode contribuir para o crescimento e nobreza da mesma ampliando o saber e fomentando o senso crítico daqueles que ainda não foram atingidos. Todos só temos a ganhar – e, principalmente, os mais necessitados.