quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Posted by Victor Bastos |


Eu não sabia por onde começar.

Para variar, me perdi nisso também.

É estranho, embora pareça ser apenas eu – ou assim imaginei – que me sinto empurrado em meio à multidão. Alguém poderia me fazer parar?

Em tudo eu esbarro, como se fosse fatal não dar um passo sem algo que mude minha direção. Que me coloque num rumo no qual não quero estar. E ainda assim sou forçado a continuar andando, como se cada passo significasse realmente alguma coisa. Não posso ficar aqui mesmo? Parar? Olhar para as pessoas?

Ah, passou uma folha voando à minha frente. Mais um pouco e eu a teria perdido; só sei caminhar olhando para baixo. Meu WhatsApp não para. E olha que eu ignoro muita gente ali. 

Onde eu estava? Já ia me perdendo. Mas será que não me perdi no que eu queria dizer? Até agora, talvez eu me perca em devaneios. Ou talvez tenha me perdido no Netflix, vendo filmes que me deixam ainda mais perdido.

Ou eu me perdi em mim. Quem sabe?

O fato é que se perder também é se encontrar. Só não se encontra onde se espera estar. Acordar preso na rotina, empurrado na vida, mandado pelos outros? Que sorte não me perder no trânsito.

Que tal parar de fingir? Parece um primeiro passo. Parar de achar que está tudo bem, que a vida segue, que é assim mesmo. Ou parar de fingir que escrevi isso querendo fazer sentido. Para mim, apenas, é que o fará. Ops, me perdi novamente.

Ah sim, fingir. É algo curioso, isso. Me parece que criamos um mundo no qual se dá bem quem finge melhor. Não estou falando de ser falso ou tirar vantagem dos outros. Só sobre fingir. Fingir para si mesmo que a realidade é essa que está aí.

Ah, como era bom caminhar sem saber das coisas. A vida seria fácil e feliz sem conhecimento. A ignorância tem essa vantagem... 

Já ia me perdendo. Talvez seja por isso mesmo que continuo me perdendo, para lembrar a qualquer um que se disponha a me perguntar que não é bom se perder.

Ao se perder na multidão, você se deixa ser empurrado sem conseguir dar um passo para onde se quer ir. É mais fácil só acompanhar a inconstante maré de gente e esperar que lhe leve a algum lugar.

Ao se perder na realidade dos nossos apps, esquecemos do mundo e, embora isso seja muito bom algumas vezes, outras são dispensáveis. Mas ainda é mais fácil se divertir nos vídeos de gatos e tweets de piada do que querer prestar atenção no sangue e suor derramados a cada dia, a poucos metros das nossas casas. Parece... diminuir a angústia.

Pensamentos. Ah, esses são os mais divertidos de todos. Talvez seja isso que alguém sinta quando consome algum entorpecente, dependendo do que for. Tudo parece sem limites. Cada segredo se revela um quebra-cabeça simples de montar, e as respostas estão sempre na ponta da língua. Na sua própria cabeça, você tem esse poder. Aqui talvez valha a pena se perder. Ou não. Quem sabe...

Se perder nas mentiras? Esse é cruel. É hipócrita, até. Porque significa que você, assim como eu muitas vezes, prefere viver sob máscara a sentir o vento e o sol no seu rosto. Depois de um tempo essa realidade montada se funde com a sua, e é difícil dizer o que é real e o que não é.

Ou talvez seja só eu.

O que interessa é que cada passo esbarrando na multidão é um lembrete que nos acostumamos a viver presos na vontade dos outros. Quando eu procuro meus aplicativos (e meu Lumia que se lasque, a bateria vai pro saco se deixar), uma voz me lembra que ali quem manda na realidade sou eu. EU construo meu próprio mundo. Ali, sou supremo, e minha vontade é sempre feita. Por que então não posso seguir o meu coração no mundo real?

Meus pensamentos são só meus. Ponto. Se alguém acha que sabe o que se passa pela minha cabeça, lamento dizer que está se enganando. Mas a verdade é que nem eu sei. Se meus passos são ditados pelos outros e minhas verdades são virtuais, como posso lidar com o espontâneo? Com o natural? É bizarro. Pensamentos “quânticos”, fique você aí com essa ótima associação. Coisas brotam na minha cabeça, e saem tão rápido quanto vieram. 

Posso contar um fato? Eu me sinto preso a esse mundo, mas quando decido abraçá-lo, me sinto mais livre do que nunca. Me prendi a uma vida de mentiras e construções artificiais. BORING. Todo mundo faz isso, não sou especial. Mas se me perco em mim mesmo, me torno livre.

Aí eu me perdi mais uma vez. Talvez você também.

Ou talvez só seja eu...