sexta-feira, 19 de abril de 2013

Posted by Victor Bastos |
Antes de começar: nem estou falando que isso é exclusividade brasileira.

Nosso "minúsculo ponto azul" flutuante no escuro mar universal resguarda exemplos inúmeros nos mais diversos países e sob as mais diversas culturas de um sentimento meio que no mesmo sentido.

Algumas ideologias pregam o antiamericanismo por associar o histórico norte-americano com atitudes arbitrárias, imperialistas e egocêntricas, guardando todo o planeta sob suas asas e considerando-se os donos do globo.

Outras ideologias enxergam nos norte-americanos figuras desonestas, que em eventos passados praticaram atos nefastos e que passaram "impunes" por crueldades praticadas. Geralmente neste caso os dois exemplos mais lembrados são os das guerras do Vietnã e Iraque.

Isso para não citar eventuais revanchismos, como os históricos decorrentes de conflitos (exemplo dos herdeiros do clima de tensão da Guerra Fria), rivalidades econômicas (alguns afirmam que isso se enquadra aos chineses - discordo), e várias outras situações que possuem de fato um evento associado ou uma base ideológica que permite, pelo menos, enumerar argumentos para se entender a razão daquele ponto de vista.

Em outras palavras, por aí as pessoas possuem alguma razão (ou pensamento para embasar) para se falar mal ou criticar. Tem uma lógica, ainda que discutível dependendo do ponto, por trás disso.

Daí, chego eu a algumas discussões em fóruns tupiniquins...

Ah, que graça. Como estamos bem servidos de sociólogos de boteco, não acham?

Cheguei a engrenar uma pequena discussão para pelo menos tentar entender alguma base de ponto de vista. O resultado? Parecia ter voltado aos episódios de Castelo Rá-Tim-Bum.

Era eu perguntando o porquê. E era o outro respondendo "porque sim". E era mais um entrando na conversa e dizendo a mesma coisa. E de novo. E de novo. E mais uma vez.

Até que surge um gato pingado que dá sinais de entrar pela mesma linha de raciocínio que eu tentei estabelecer - só não estendeu muito a conversa porque pelo visto ainda não tinha lido todas as notícias, disse que queria se informar. Uma resposta muitíssimo mais inteligente do que a da grande maioria que chegava lá para o típico discurso vazio que nem para palanque serve.

Essas minhas interações começaram ainda quando esquentaram as coisas lá pela península coreana. Foi impressionante a quantidade de opiniões pró-Coreia do Norte. O embasamento? "Por que só os EUA podem ter arma nuclear?". Não, não estou de sacanagem. Esse foi de longe o levantamento mais crítico que eu visualizei em muito tempo. Até que surgiu uma interessante pergunta: 

"Você acabou de se mudar e está tentando arrumar a casa, tentando pouco a pouco se livrar de preocupações externas. Daí, numa reunião de vizinhos, você descobre que um rapaz próximo da sua casa herdou dos parentes um discurso inflamado contra você e está tentando se armar, visando justamente a você. Seus vizinhos, nervosos, juntam os moradores mais amigos de todos da rua, e com isso decidem (com a sua aprovação) que precisam de algo que reprima a insistência desse 'meliante'. Ele fica ainda mais nervoso e agora ameaça você e seu amigo mais próximo. Dá pra viver em paz com isso?"

Muita gente acha ainda que os norte-americanos são uma máquina de guerra de vontade incessante de transformar catástrofes em lucros, e que querem dominar o mundo.

Desculpe, gente. Mas a Guerra Fria acabou já tem um tempinho.

Que são uma máquina de guerra ninguém discute: são sem dúvida os inimigos mais temidos do mundo, não pelo que possuem, mas exatamente pelo que eventualmente não saibamos sobre suas tecnologias bélicas. Mas vai me dizer que são fanáticos por guerra e querem se aproveitar da desgraça alheia? Podem até ter sido. Mas creio que isso morreu com o Iraque. 

Perguntem a qualquer americano se ele ou ela está ansioso por um conflito com a Coreia do Norte.

Perguntem a qualquer americano se ele ou ela está interessado em um novo 11 de setembro, ou, mais recentemente, se está interessado em se sentar na poltrona e descobrir que as cidades de sua nação estão passando o que Boston passou nos últimos dias.

Mas não. Sempre vai ter um para chegar e dizer brilhantes coisas como "a polícia americana é o retrato claro dessa sede se sangue: vão para matar". Pois é. Um abraço pra você que disse isso, porque há pouco confirmaram a informação de que o segundo suspeito das bombas foi capturado e está vivo, só foi ferido durante troca de tiros que ELE MESMO inventou frente à chegada das autoridades.

Agora pergunte ao Obama se ele tem o mínimo interesse em, pleno momento de recuperação econômica do Tio Sam, uma nova guerra bilionária.

E olha que as ameaças só estão aumentando. E o "sanguinolento" Tio Sam o que faz? Tenta acalmar ânimos, cancelando um dos seus raros (RARÍSSIMOS, até) testes de armamentos de defesa.

Lembro que um colega do curso do Direito, durante debates do II MUNdi em meu comitê, conclamava os norte-americanos de "O Grande Satã do Ocidente".

Ele ao menos estudou e tinha razões pra enumerar assim. E garanto que, nesse momento, se ele chegar a ler o que estou escrevendo, há de concordar comigo que há momentos e momentos na História americana.

O que não pode é falar sem base, sem argumento, sem vontade... Enfim, bancar o sociólogo de boteco é a pior coisa possível. Ninguém ganha. Acredite, ninguém.

E assim volto ao título do texto. Por que interpretar essas coisas como um retrato da falta do senso crítico e da consciência histórica? Eu respondo: porque é exatamente isso que é.

Existe uma razão pela qual eu não gosto de fofocar sobre a vida alheia, e isso gera vários contratempos, porque muitas vezes me vejo em situações cujos assuntos são fatalmente esses. Resultado: fico calado e acabam às vezes me achando antisocial. A razão disso tudo é: julgar os outros sem saber o que se passa de fato é, a meu ver, a maior perda de tempo e esforço de toda a existência humana.

Analogamente, vou aplicar isso a falar de outros países por falar. Sujeito fala sobre os EUA como se fossem eternos vilões. Vai ser com certeza o mesmo que vai, como acabei testemunhando uns tempos atrás, dizer que "advogado é a pior raça que tem. Que morram todos". Provavelmente vai ser o mesmo que vai dizer depois "esses árabes são todos loucos terroristas." E depois algo como "Aproveitem as bombas, Coreia do Norte, e joguem em Brasília!". O tipo de pessoa que assume a esfera da plena irresponsabilidade com o que diz, atestando sequer uma ignorância, mas sim uma alienação e um indivíduo em pleno processo de "desumanização", desarticulando todo o mérito de um discurso e seu papel, e ainda se orgulha disso.

Acho que nem cabe nenhuma observação minha, a não ser uma pergunta que deixo para todos:

É sério isso?