quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Posted by Victor Bastos |


Eu não sabia por onde começar.

Para variar, me perdi nisso também.

É estranho, embora pareça ser apenas eu – ou assim imaginei – que me sinto empurrado em meio à multidão. Alguém poderia me fazer parar?

Em tudo eu esbarro, como se fosse fatal não dar um passo sem algo que mude minha direção. Que me coloque num rumo no qual não quero estar. E ainda assim sou forçado a continuar andando, como se cada passo significasse realmente alguma coisa. Não posso ficar aqui mesmo? Parar? Olhar para as pessoas?

Ah, passou uma folha voando à minha frente. Mais um pouco e eu a teria perdido; só sei caminhar olhando para baixo. Meu WhatsApp não para. E olha que eu ignoro muita gente ali. 

Onde eu estava? Já ia me perdendo. Mas será que não me perdi no que eu queria dizer? Até agora, talvez eu me perca em devaneios. Ou talvez tenha me perdido no Netflix, vendo filmes que me deixam ainda mais perdido.

Ou eu me perdi em mim. Quem sabe?

O fato é que se perder também é se encontrar. Só não se encontra onde se espera estar. Acordar preso na rotina, empurrado na vida, mandado pelos outros? Que sorte não me perder no trânsito.

Que tal parar de fingir? Parece um primeiro passo. Parar de achar que está tudo bem, que a vida segue, que é assim mesmo. Ou parar de fingir que escrevi isso querendo fazer sentido. Para mim, apenas, é que o fará. Ops, me perdi novamente.

Ah sim, fingir. É algo curioso, isso. Me parece que criamos um mundo no qual se dá bem quem finge melhor. Não estou falando de ser falso ou tirar vantagem dos outros. Só sobre fingir. Fingir para si mesmo que a realidade é essa que está aí.

Ah, como era bom caminhar sem saber das coisas. A vida seria fácil e feliz sem conhecimento. A ignorância tem essa vantagem... 

Já ia me perdendo. Talvez seja por isso mesmo que continuo me perdendo, para lembrar a qualquer um que se disponha a me perguntar que não é bom se perder.

Ao se perder na multidão, você se deixa ser empurrado sem conseguir dar um passo para onde se quer ir. É mais fácil só acompanhar a inconstante maré de gente e esperar que lhe leve a algum lugar.

Ao se perder na realidade dos nossos apps, esquecemos do mundo e, embora isso seja muito bom algumas vezes, outras são dispensáveis. Mas ainda é mais fácil se divertir nos vídeos de gatos e tweets de piada do que querer prestar atenção no sangue e suor derramados a cada dia, a poucos metros das nossas casas. Parece... diminuir a angústia.

Pensamentos. Ah, esses são os mais divertidos de todos. Talvez seja isso que alguém sinta quando consome algum entorpecente, dependendo do que for. Tudo parece sem limites. Cada segredo se revela um quebra-cabeça simples de montar, e as respostas estão sempre na ponta da língua. Na sua própria cabeça, você tem esse poder. Aqui talvez valha a pena se perder. Ou não. Quem sabe...

Se perder nas mentiras? Esse é cruel. É hipócrita, até. Porque significa que você, assim como eu muitas vezes, prefere viver sob máscara a sentir o vento e o sol no seu rosto. Depois de um tempo essa realidade montada se funde com a sua, e é difícil dizer o que é real e o que não é.

Ou talvez seja só eu.

O que interessa é que cada passo esbarrando na multidão é um lembrete que nos acostumamos a viver presos na vontade dos outros. Quando eu procuro meus aplicativos (e meu Lumia que se lasque, a bateria vai pro saco se deixar), uma voz me lembra que ali quem manda na realidade sou eu. EU construo meu próprio mundo. Ali, sou supremo, e minha vontade é sempre feita. Por que então não posso seguir o meu coração no mundo real?

Meus pensamentos são só meus. Ponto. Se alguém acha que sabe o que se passa pela minha cabeça, lamento dizer que está se enganando. Mas a verdade é que nem eu sei. Se meus passos são ditados pelos outros e minhas verdades são virtuais, como posso lidar com o espontâneo? Com o natural? É bizarro. Pensamentos “quânticos”, fique você aí com essa ótima associação. Coisas brotam na minha cabeça, e saem tão rápido quanto vieram. 

Posso contar um fato? Eu me sinto preso a esse mundo, mas quando decido abraçá-lo, me sinto mais livre do que nunca. Me prendi a uma vida de mentiras e construções artificiais. BORING. Todo mundo faz isso, não sou especial. Mas se me perco em mim mesmo, me torno livre.

Aí eu me perdi mais uma vez. Talvez você também.

Ou talvez só seja eu...

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Posted by Victor Bastos |
Eu tinha apenas 11 anos de idade quando me maravilhei com a notícia. Uma sonda que percorreria bilhões de quilômetros para pousar em um cometa? "Parece Armageddon", eu lembro de ter pensado em algum momento. Com a clara vantagem de não se tratar de um evento devastador para a vida na Terra.

A ficção científica foi deixada de lado na minha cabeça, de vez, naquele março de 2004. Embora eu já fosse muito bem familiarizado com leituras de - principalmente - Astronomia e Física, graças ao grande acervo da biblioteca da escola onde estudava à época (Colégio Dom Bosco), duvidava muito da capacidade de ver, tão cedo, as grandes agências especiais (NASA e ESA) alçarem voos literalmente "tão altos". 



Ledo engano. A Rosetta e seu histórico robô Philae (que, no dia de hoje, tornou-se o primeiro objeto construído pelo homem a pousar em um cometa) ensinaram que os limites para as conquistas e triunfos da Ciência não existem. Podemos parecer caminhar a passos lentos, mas estamos, em verdade, à toda velocidade. Os sonhos de incontáveis admiradores do ceu e da magnificência do Cosmos que nos cerca, dia após dia, convertem-se em realidade. E as provas do poder benéfico da criação do homem não custam a aparecer.

Quanto mais olhamos para o alto e investigamos o que nos cerca, para mais longe da ignorância caminhamos. A medida do sucesso é diretamente ligada à perseverança de quem busca ampliar os limites do que conhecemos. E, hoje, a sonda da ESA criou mais um marco histórico, não apenas digno de nota, mas digno de aplausos: mais um marco para a grande lista de conquistas que, à sua forma, contribuem para humanidade mais consciente e um saber mais rico; resta a nós, observadores, reconhecermos a fantástica caminhada que tem sido realizada pela Ciência em nome da sapiência.

Em 12 de novembro de 2014, não é apenas aquele garoto de - outrora - 11 anos de idade que se maravilha e vê o resultado pelo que tanto esperava. Somos todos nós, apaixonados pelo saber e pela busca incessante e esperançosa da verdade dos fatos, e pelo senso crítico e cético que guia os fatos mais construtivos da História da civilização humana.

Por 10 anos de expectativas e, hoje, de alegrias: muito obrigado a cada um dos que contribuiu para este momento.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Posted by Victor Bastos |
O papel das lideranças sociais, em meados do século XXI, tende majoritariamente a ser exercido por aquele que se apresenta com maior popularidade e resposta perante os anseios da sociedade, representada – em termos de democracia – por uma maioria que nesse indivíduo deposita sua confiança em comandar o Estado.

Soa, sem dúvidas, poético: uma sociedade supostamente madura decidindo os próprios rumos, julgando quem melhor surge para governá-la por um período vindouro e determinado, bem como dando o seu aval para as decisões que manifeste de maneira prévia aquele que almeja o papel da liderança – hoje em dia, por meio de debates e propaganda eleitoral, como o caso brasileiro.

A dicotomia que pode vir a surgir, porém, da corrente ideológica que defende os moldes atuais, não é de todo fácil de ignorar. Se a maturidade social atinge, com o regime democrático, o atual ápice de qualquer sociedade organizada, de maneira que seja o regime mais desejável e admirado, onde exatamente passa a residir a escusa para falhas sucessivas daqueles que regem a máquina pública? Será que a própria democracia é, em si, hábil por natureza a ponto de não estar sujeita a críticas em torno daqueles que dela se usam para catapultar-se em direção ao poder?

Vale sempre rememorar as palavras de Norberto Bobbio acerca da democracia enquanto regime, ao que aborda:

“[...] por democracia entende-se uma das várias formas de governo, em particular aquelas em que o poder não está nas mãos de um só ou de poucos, mais de todos, ou melhor, da maior parte, como tal se contrapondo às formas autocráticas, como a monarquia e oligarquia.”

Permito-me, nesta análise, fazer uma citação de Cláudio Reis (Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho  e Doutor em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas), que, em específico ao caso brasileiro, aborda:

Desde 1988, foi estabelecido no Brasil o chamado Estado Democrático de Direitos. Essa maneira específica de definir a democracia corresponde ao seguinte pressuposto: somente serão incluídos em sua esfera de atuação aqueles contemplados por determinados direitos, legitimados a partir da norma jurídica. E é justamente neste sentido que a atual Constituição Federal parece trabalhar, isto é, pela inclusão do maior número possível da população do país. De qualquer modo, devido a essa característica é cada vez mais observável, na realidade efetiva, uma certa corrida às leis por parte dos setores ainda desprotegidos pela Constituição. Afinal, ter uma lei em seu benefício pode, em alguns casos, ser a condição de uma vida digna. Portanto, viver em um espaço democrático no Brasil, significa possuir direitos.

Embora seja necessário o discernimento, logo de pronto, entre o Estado Democrático e o instituto “democracia”, ambos se correlacionam na esfera material, em específico na maneira como, via de regra, possuem materialização na vida prática e na institucionalização perante as sociedades. O caso brasileiro entende democracia, na maioria dos casos (e conforme bem apontado pelo Dr. Cláudio), no campo de titularidade de direitos pelos cidadãos. Inclusive não seria possível algo diferente, vide o porte magnânimo do art. 5º da Carta constitucional pátria.

É curioso que o exercício interpretativo acerca da democracia brasileira tenda muito ao “possuir direitos”, como se tudo pudesse ser dado como garantido uma vez que o Estado assuma uma postura pró-algo. Ora, é evidente a distância entre teoria e realidade, entre texto constitucional e vivência cotidiana. E embora não vá perder tempo em abordagens epistemológicas (como a ridícula insistência esquerdista em propor o conflito burguesia x proletariado, como se até mesmo esses nomes fossem algo aplicável à realidade atual), não é errado admitir que exista, para um país regido por tão belas metas de igualdade social, um abismo notório entre o almejado pela Constituição e seus idealizadores e o dia-a-dia, por exemplo, de grupos discriminados à margem das conquistas sociais.

Há, portanto, um aspecto que, a meu ver, tem sido deixado de lado quando pensamos no futuro do país: como lidar com o constante afastamento do aclamado pela Carta Magna como ideal para o Estado brasileiro e a realidade resultante de sucessivas políticas socioeconômicas que apontam dias nada fáceis para todos os conterrâneos tupiniquins. Onde está o ponto de conexão entre o texto e o fato? Quem – ou o quê – pode servir como instrumento de concretização do que hoje reside na esfera do vir a ser dos frios papeis da Constituição?

Entendo tratar-se de um papel que incumbe, evidentemente, às lideranças do Estado brasileiro. Ao elegermos o regime da democracia representativa, deixamos claro o recado de que enviamos a Brasília aqueles que passam a ter o papel de gerir o Estado de forma a alcançar uma prosperidade e evolução dignos das metas constitucionais. Permito-me até mesmo ser menos ambicioso nesse sentido e reescrever a frase acima de outra forma: “deixamos claro o recado de que enviamos a Brasília aqueles que passam a ter o papel de gerir o Estado de forma a alcançar uma razoável correspondência com as necessidades pelas quais a sociedade brasileira passa”.

Não apenas se está vivendo, porém, um evidente problema nessa expectativa. Há uma clara perda de confiança no próprio modelo adotado. Como bem aborda Karla Manfredini:

“[...] o que tem se vivenciado no Brasil é a crise desse modelo. Os representantes já não representam o povo; este, por sua vez, já não se interessa pelos assuntos políticos. O número de partidos cresce, mas as ideologias continuam as mesmas, e, o poder legislativo ainda não logrou sua independência, continua a operar com preponderância do executivo”.

Além de toda a carga de engajamento aparente que tomou o Brasil (em especial as redes sociais) nas eleições recentes, com forte tendência à defesa da alternância de poder na figura do senador Aécio Neves (PSDB-MG), pergunta-se: onde está, de fato, o interesse nacional na política?

A resposta é a mesma à qual chegou Manfredini: o interesse, via de regra, não está em lugar nenhum.

Acredito que a interpretação acerca do conceito de política não passa exatamente pelos eventos de natureza política (comícios, eleições, etc.), mas pela própria dialética que rege o desenvolvimento de uma sociedade e os meios pela qual alcança-se uma prospecção tal que exista coesão da conjectura institucional e social. Por este aspecto, há um afastamento notável da realidade brasileira, principalmente considerando-se o próprio estigma que permeia a sociedade tupiniquim, que “política não se discute” – este, talvez, o erro mais grotesco no qual uma população possa incorrer.

O quadro não é dos mais positivos: de um lado, representantes que cada vez menos representam seus eleitores. De outro, eleitores que menos se interessam na dialética e no longo prazo estatal e mais se importam com a manutenção das suas regalias ou estilo de vida (o que inclui as famigeradas bolsas e auxílios governamentais). Isso para sequer adentrar o mérito da cada vez mais clara falência do modelo partidário atual (vide a governabilidade federal passar, quase obrigatoriamente, por uma aliança com legendas como o PMDB).

Onde estão, nesse meio, as lideranças que a sociedade requer para levar adiante o país? No Planalto é que não estão.

Permito-me uma – agora – digressão, mas que ilustra muito bem onde, penso eu, reside a solução a médio e longo prazo para o Estado brasileiro: a alegoria do mito da caverna de Platão.

De acordo com essa alegoria, há prisioneiros (desde o nascimento) que vivem presos em correntes numa caverna e que passam todo tempo olhando para a parede do fundo que é iluminada pela luz gerada por uma fogueira. Nesta parede são projetadas sombras de estátuas representando pessoas, animais, plantas e objetos, mostrando cenas e situações do dia-a-dia. Os prisioneiros ficam dando nomes às imagens (sombras), analisando e julgando as situações. Em determinado momento, um dos prisioneiros é forçado a sair das correntes para poder explorar o interior da caverna e o mundo externo, entrando em contato com a realidade e percebendo que passou a vida toda analisando e julgando apenas imagens projetadas por estátuas. Ao sair da caverna e entrar em contato com o mundo real, fica encantado com os seres de verdade, com a natureza, com os animais e etc. Volta, assim, à caverna, para passar todo o conhecimento adquirido fora da caverna para seus colegas ainda presos. Porém, é ridicularizado ao contar tudo o que viu e sentiu, pois seus colegas só conseguem acreditar na realidade que enxergam na parede iluminada da caverna. Os demais prisioneiros o chamam de louco, ameaçando-o de morte caso não pare de falar daquelas ideias consideradas absurdas.

A conjectura social brasileira não se afasta muito, enquanto analisado o conhecimento e interesse na política, da alegoria de Platão. Não é segredo que o analfabetismo funcional é marcante, e não apenas em um ou outro estrato socioeconômico. Há quem propague a ignorância de peito aberto, ou quem não se sinta culpado por se deixar usar, militando de maneira alucinada mas sem a menor noção de consequências do que defende.

Eis que a resposta passa a residir não nas lideranças que se apresentam atualmente ao poder da União, mas nos – ainda pouco – que se dispuseram a sair da caverna de Platão, explorando e descobrindo as informações vitais que todo cidadão funcional demanda para o pleno exercício do regime democrático num Estado de demandas tão urgentes quanto o brasileiro (ouso dizer, inclusive, que em qualquer Estado que aspire a algo além da passividade no cenário global).

Infelizmente, a própria conjectura social brasileira apresenta repulsa ao esclarecimento: ainda vivemos numa sociedade que celebra o “jeitinho malandro” em detrimento da ética e da inteligência – e não adianta querer negar, isso é a nossa realidade. Embora isso constitua mais uma barreira, é uma espécie de responsabilidade daqueles que possuam o conhecimento adquirido de amadurecer os que os cercam de forma a amplificar o alcance do aprendizado, celebrando a informação e atingindo e beneficiando aqueles que dela não dispõem.

Notem que não me refiro de uma obrigatoriedade, embora use a palavra “responsabilidade”. Até porque, se celebramos a liberdade, obrigações impostas por uns a outros estão longe de ser sinônimo de “ser livre”. A espontaneidade dessa “prestação de esclarecimento” é traço fundamental do que realmente necessita a sociedade brasileira, de maneira que rompa as barreiras dos preconceitos que atualmente nutrimos e amplifique o alcance do senso crítico na vida política exercida por todos, desde eleitores a candidatos. E essas medidas passam desde a fiscalização dos atos praticados pelos representantes já eleitos até as campanhas acadêmicas que disseminem o estudo e a curiosidade dos cidadãos pelo exercício político.

Evidentemente isso passa pela quebra de certos paradigmas e a abertura ao debate franco e completamente aberto, o que será tiro-e-queda para várias ideologias falidas oriundas do marxo-keynesianismo, mas é algo que deve ser iniciado pelo menos na proporção em que fomente a curiosidade da população em geral pelos assuntos relevantes à governança brasileira. Além disso, destarte isso pode implicar em um esforço descomunal por parte dos que aceitarem o desafio, pois as barreiras ideológicas estão por toda parte, e o preconceito com ideias liberais é grande, consequência de anos e anos de doutrinação marxista nas Academias. Contudo, como dito acima, prossegue sendo um desafio a ser vencido.

Não se pode deixar abater pelo estigma de “elitismo” quando se fala do esclarecimento enquanto ferramenta (há esse paradigma em algumas camadas sociais); deve-se usar do conhecimento não como instrumento para doutrinação de uma suposta verdade única, mas de catapulta para a dialética e o franco enfrentamento de ideias, amadurecendo as concepções vigentes na sociedade atual.

Enquadrar-se nesse perfil dos “verdadeiros elementos de mudança” não demanda um currículo cheio de graduações e mestrados, mas sim uma predisposição acadêmica e a vontade de levar o conhecimento adiante. É difícil, mas não impossível, exercermos uma missão na qual o Estado – quer por omissão ou por falta de competência – falhou miseravelmente. E pode ser mais prático do que parece: já pararam para imaginar a diferença que pode fazer a adição do tópico “política” na leitura diária de todos por meros 10 minutos? A inclusão do hábito de acompanhar jornais e refletir sobre o que eles noticiam? O fomento às conversas informais? A reunião de grupos de estudos nas universidades? As iniciativas de feiras e seminários nas escolas? Tudo isso é muito real. Está ao alcance de todos que queiram se engajar na iniciativa.

Política se discute, sim. E decide os rumos não apenas das nossas finanças, mas também as estratégias que deveremos adotar para assegurar uma melhor criação de nossos filhos. Um esforço de hoje será refletido no devir dos anos, de uma maneira que nem o mais otimista dos analistas pode prever. Tudo passa a depender da nossa própria vontade de engajamento. E, neste aspecto, declaro-me mais do que aberto aos debates, como sempre fui, e desejoso de fomentar essa dialética em busca de disseminar o conhecimento, na medida do possível.

É com esta meta que passo a convidar a todos não de maneira formal a uma solenidade, mas sim informalmente a um compromisso: incentivar o conhecimento e o debate.

Lembremos que há pessoas que nunca sequer possuíram um aparelho celular (do mais simples que seja) e não sabem assinar o próprio nome, e que caem nas falácias com as quais convivemos diariamente. Eles acreditam que a vida esteja ideal como está. Que tal mostrarmos a eles rumos para que seja ainda melhor do que isso? Demonstrar que ambição não é ruim; que enriquecer não significa avareza; que estudar não significa elitismo ou caretice; que assistir jornais não é “apenas ver desgraça”. Tudo isso e mais um pouco.


Se você não quer entrar na política como um agente direto, pode contribuir para o crescimento e nobreza da mesma ampliando o saber e fomentando o senso crítico daqueles que ainda não foram atingidos. Todos só temos a ganhar – e, principalmente, os mais necessitados.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Posted by Victor Bastos |
Não é nem um pouco fácil se colocar em algum posicionamento em um tema como esses. Por sinal, por muito tempo (anos, inclusive) relutei em abertamente tomar uma posição, por motivos de ser assumidamente indecidido quanto a várias perguntas que envolvem esse conflito. Dada a oportunidade, porém, aprofundei-me ainda mais no tema, e acho que a partir de agora já posso opinar com menos amadorismo do que faria em tempos anteriores.

A primeira ideia que precisamos ter clara e indiscutível em nossas mentes para realmente apreendermos o que acontece naquela região do Oriente Médio é: nenhum dos lados é o vilão. Repito. Nenhum dos lados é o vilão. É completamente insano e absurdo, além de obsceno, sustentar que "todos os palestinos são fanáticos", bem como "todos aqueles israelenses só querem ver os árabes mortos". Não funciona nesse nível generalizado (como, aliás, muito frequentemente não funciona). E ainda assim isso é um tipo de pensamento difícil de se manter, dada toda a pressão midiática em cima desse assunto, amparada pelas generalizações típicas dos veículos de massa. Então precisamos partir do pressuposto de que, bem ou mal, cada um dos lados tem uma versão para contar, e não cabe a nós, outsiders, fazermos juízo de valor sobre o que eles nos dizem. Nossa tarefa é dar-lhes a voz, escutar suas palavras e buscarmos racionalizar o que nos dizem.

O segundo pressuposto do qual devemos partir é que devemos nos ater aos fatos para uma análise objetiva. Contudo, no exato instante em que postulei isso mentalmente, me veio a pergunta: "que fatos?". Como pressupor que fatos são verídicos? Confiar na transparência de mídias cada vez mais tendenciosas, ainda que em escala global? Teorias da conspiração à parte, não precisamos de muito estudo para saber que mesmo os jornalistas mais íntegros estão submissos a editoriais influenciáveis. Além disso, a História nada mais é do que uma narrativa contada pelos vencedores. Para solucionar essa dúvida, tentei me ater ao máximo de leituras analíticas possíveis, criando um rol de ideias pessoais o mais isentas possível do ponto de vista de ideologias que pudessem favorecer a um dos lados.

O terceiro pressuposto é que nenhum dos lados pode se abster de um "mea culpa". Tanto o Hamas quanto Israel tem coisas pelas quais devem responder perante a sociedade internacional, e prefiro acreditar, ao menos em princípio, que existem pessoas boas e razoáveis dos dois lados (isso faz parte do segundo pressuposto, o de adotar um ponto de vista livre de favorecimentos de X ou Y). Portanto há esperança de razoabilidade vindo de ambos os lados, e isso eu adoto como premissa para permitir tratar os dois lados com o máximo de objetividade e imparcialidade que eu puder.

De antemão preciso adiantar que sou contra a criação do Estado de Israel, tanto em como ocorreu quanto sob quais termos. Na verdade, sou contra a criação de qualquer Estado sob regime teocrático. Qualquer Estado que seja, uma vez que se organize a partir de uma religião, a meu ver carece de reais Justiça, razoabilidade e motivo de ser. Logicamente, a criação de um Estado judeu no meio do Oriente Médio está longe de ser algo que eu possa chamar de memorável. Ainda que eu pense dessa forma, eu entendo que muitas pessoas ao redor do globo tiveram vários motivos teoricamente compreensíveis para a criação do Estado de Israel. Sam Harris aborda isso muito bem em um artigo ao dizer que:

"Though I just said that I don’t think Israel should exist as a Jewish state, the justification for such a state is rather easy to find. We need look no further than the fact that the rest of the world has shown itself eager to murder the Jews at almost every opportunity. So, if there were going to be a state organized around protecting members of a single religion, it certainly should be a Jewish state".

Isso, contudo, não exime Israel de ser diretamente ligado com os conflitos que ocorrem hoje, da mesma forma como o Hamas não pode também se eximir do ponto em que a situação chegou atualmente (como disse no terceiro pressuposto, "nenhum dos lados pode se abster de um 'mea culpa'"). Os relatos mais confiáveis de israelenses apontam que eles foram vítimas de hostilidades de muitos dos seus vizinhos desde quando o Estado foi criado. Já os fieis relatos de palestinos e seus defensores conclamam que os israelenses, a partir de determinado momento, receberam ordens de invasões e conquistas territoriais, iniciando portanto as hostilidades. Um desses relatos, por sinal de uma pessoa de grande confiança, narra que antes das hostilidades, os judeus e os árabes conviviam pacificamente naquele território. E não apenas esse relato demonstra isso: informações de ambos - judeus e árabes - comprova que, anteriormente à criação do Estado israelense, as hostilidades não existiam, e isto é reforçado por obras e publicações da época. 

Quando eu disse que parto do pressuposto de que ambos os lados devem possuir ao menos um pouco de razoabilidade, eu não falei por falar. Alguém já parou para pensar que esse conflito em Gaza nem de longe é algo tão generalizado quanto pode se tornar? Pensem um pouco. Israel é dotado de um arsenal militar formidável, e ainda assim não tem feito tantas vítimas palestinas quanto poderia fazer se usasse todos os meios à disposição. Já o Hamas,a essa altura, não teria feito bem mais estrago se estivesse de fato mal-intencionado? Basta pensar em outros grupos jihadistas e fundamentalistas que causaram aos árabes a triste associação ao terrorismo. Em que pesem os números do conflito, os dois lados poderiam estar fazendo muito pior do que fazem hoje.

Faça-se a pergunta: por que?

A cartilha do Hamas chega a ser totalmente enfática quanto ao que diz respeito aos judeus. Cito:

"But even if the links have become distant from each other, and even if the obstacles erected by those who revolve in the Zionist orbit, aiming at obstructing the road before the Jihad fighters, have rendered the pursuance of Jihad impossible; nevertheless, the Hamas has been looking forward to implement Allah’s promise whatever time it might take. The prophet, prayer and peace be upon him, said:  The time will not come until Muslims will fight the Jews (and kill them); until the Jews hide behind rocks and trees, which will cry: O Muslim! there is a Jew hiding behind me, come on and kill him! This will not apply to the Gharqad, which is a Jewish tree (cited by Bukhari and Muslim)." [grifos meus]

O que mais pode vir a perturbar nesse sentido é o quão abertamente declarado esse documento se posiciona quanto aos judeus, e isso está explícito na cartilha de um grupo que foi eleito pelos palestinos em Gaza para tutelar a região. Eis uma das razões pelas quais eu não culpo muitas pessoas por temerem o Hamas e o que podem vir a fazer no conflito em Gaza. Entretanto, deve-se ponderar efetivamente o seguinte: se o Hamas de fato seguisse esse documento de maneira literal e totalmente séria, eles já não teriam providenciado um massacre indiscriminado e BEM MAIOR de judeus, principalmente israelenses?

Olhem atentamente os números que constam nos jornais. Os principais alvos dos palestinos em Gaza são os militares israelenses, não a população civil. Ainda que o Hamas já tenha vitimado civis antes, o que é inegável. 

"Então Israel é o errado da história?"

Surpreendentemente... até aqui, não. Ou pelo menos não tão errado quanto são acusados de ser.

Israel fez coisas terríveis e indizíveis até aqui, e isto é inegável. Contudo, considere que mesmo com todos os horrores de conflitos em Gaza, Israel ainda fez menos do que os EUA e os países da Europa Ocidental em outros conflitos armados. Dependendo da perspectiva, alguém poderia até ter a impressão de que Israel evitou um banho de sangue ainda maior no decorrer dos últimos anos. Com o poderio militar de que dispõe, Israel poderia, se bem entendesse, dedicar-se a aniquilar toda Gaza em questão de dias. Ainda que o Hamas tenha atuado muito bem - em termos estratégico-militares - até hoje na contenção de eventuais ofensivas israelenses, continuam sendo um grupo contra um Exército. E uma Força Aérea. E uma Marinha. E vários e vários artefatos de destruição em larga escala.

Não quero ser injusto com nenhum dos lados, e espero ter deixado isso bem claro. Mas me passa a impressão de que os dois lados estão tentando evitar o banho de sangue. Embora Israel cause um montante alto de vítimas nas ofensivas, sem sombra de dúvidas poderia ser muito maior se eles assim quisessem e se dispusessem em caso de um conflito total. Ainda mais se considerarmos que Gaza é um dos locais mais populosos do mundo, o que, por ato reflexo, significa que qualquer ato hostil naquela região vai, sem sombra de dúvidas, render uma grande quantidade de vítimas civis.

Lembram do terceiro pressuposto? "Tanto o Hamas quanto Israel tem coisas pelas quais devem responder perante a sociedade internacional, e prefiro acreditar, ao menos em princípio, que existem pessoas boas e razoáveis dos dois lados". Aqui reside um ponto - talvez o mais delicado de todos - crucial para que se observe de maneira direcionada como funciona o conflito na região. Como estabelecer um parâmetro moral para que consigamos realmente avaliar e entender o problema? Mesmo aqueles que defendem Israel na questão não conseguem fugir da realidade. Mais uma vez, cito o brilhante Sam Harris:

"But there is no way to look at the images coming out Gaza—especially of infants and toddlers riddled by shrapnel—and think that this is anything other than a monstrous evil. Insofar as the Israelis are the agents of this evil, it seems impossible to support them. And there is no question that the Palestinians have suffered terribly for decades under the occupation".

O que tem Israel a ganhar com o gigante massacre que tem ocorrido em Gaza? O território? E o que acontece com Israel depois desse genocídio? A verdade é que quanto mais o massacre se prolonga, mais Israel se enfraquece no contexto global, rumando a se tornar um verdadeiro pária internacional. Desse ponto de vista, se alguém realmente me convencesse de que Israel tem um pé permanente no freio, eu conseguiria entender o porquê.

Em última análise, eu poderia admitir que tendo muito a entender mais o lado dos palestinos em Gaza, lutando pela sobrevivência de seu povo e pela manutenção - do que sobrou - do seu território. Também poderia aproveitar e dizer que eu não duvido de uma eventual paz com uma nova divisão de territórios. Sei que soa uma utopia, mas entendo realmente ser a melhor solução a coexistência de dois Estados, um palestino e um judeu. Como operacionalizar essa coexistência? Sinceramente, não sei. Mas com certeza é uma solução bem melhor do que deixar o sangue escorrer pelo Oriente Médio até que um dos lados se esgote de defensores vivos. Hamas acredita que luta pelo seu povo. Israel acredita que luta pelo seu povo. Nós tentamos entender qual lado está certo, quando na verdade não há um lado mais certo do que o outro - há um lado que sofreu mais do que o outro, e que portanto merece auxílio e urgência neste auxílio. Não é uma questão de certo x errado. Não é esse o aspecto de moral que deve ser aplicado à Gaza para analisar a situação.

A verdade é que a vida, independente de israelense ou palestina, árabe ou judia, é igualmente valiosa. Não se distinguem os valores das vidas humanas a depender de sua região ou crença. A solução, qualquer que seja ela, não pode passar por qualquer critério que valorize de maneira tendenciosa um lado ao outro, caso contrário seria obscena e moralmente repreensível - quem sabe, inclusive, geradora de novos conflitos mais adiante.

Como disse a um grande amigo algumas horas antes de escrever este texto: "[...] se os palestinos fossem escutados, ninguém precisava ter morrido jamais por isso. Bastava ter dado voz ao povo palestino e a paz poderia, sim, existir. [...] O Hamas poderia se dirigir aos próprios judeus de Israel e dizer 'Desculpem-nos aqueles que porventura morreram sem necessidade nesse conflito'".

Acredito que do lado de Israel também exista essa iniciativa, de alguma forma. Agora, o próximo passo é: como trazer essas iniciativas à mesa de negociações e finalmente encontrar a paz?

E se cabe uma mensagem para ambos os lados, é esta: "Palestinos e israelenses, vocês por acaso se odeiam tanto que não conseguem coexistir? Não seria hora de mudar suas lideranças, buscar novas ideias e aproximar-se de maneira diferente do que tentaram até aqui? Ceder um pouco do seu em prol do bem comum?"

Utopia? Talvez. Mas há muito aprendi que a paz não é utópica - apenas em alguns momentos, parece ser impraticável.

segunda-feira, 10 de março de 2014

Posted by Victor Bastos |
Num país minimamente preparado, o cenário de políticas de pão e circo significaria que o relógio está chegando cada vez mais perto do "fim do dia" para a governança irresponsável. No Brasil concreto... O cenário é outro.

O que Pão e Circo são e fazem hoje
A própria constituição ideológica da população brasileira revela uma tendência de que, sequer em caso de caos generalizado, exista uma mudança concreta. Pode tirar a Globo. Pode tirar o futebol. Pode tirar UFC. Seja lá qual for a sua ideia pessoal do que constitui "política de circo", pode-se livremente retirar do cotidiano popular. A prática nos faz ver que, ao passo atual, nem mesmo com toda a remoção das inutilidades rotineiras seria vista uma mudança real. Na melhor das hipóteses, um governante efetivamente comprometido com o futuro do país, face à ausência de políticas assistencialistas e a ousadia social, facilmente veria minada toda a possibilidade de uma reeleição ou continuidade da postura. Isso tudo por um simples fato: falta ao povo tempo suficiente para entender o lógico - vida boa não é vida fácil.
E a Copa? Que a inauguração dos estádios ao redor do país nas vésperas da Copa do Mundo FIFA 2014 é uma política de entretenimento preparada pelo Estado tupiniquim para tentar manter a atenção das massas, não há o que se discutir.
Também não é nada inédito debater o quão "Pão" pode ser apontada a ideia das várias bolsas e políticas assistencialistas.

O Relógio Não Para...
Costumo dizer que há três coisas no cosmos que tem extinção certa e inevitável: o nosso próprio Universo, o comunismo e a governança irresponsável. Esse último merece uma pequena reflexão (não menos que os outros dois, mas para fins deste post, cabe delimitar o tema).
O Brasil tem, segundo opinião minha, um máximo de 16 anos até que cheguemos ao limiar de um caos sócio-econômico. Isso tende a ocorrer a partir do momento em que mantivermos a nossa linha atual de abordagem econômica e manipulação social, com a constância de políticas de curto-prazo e "tapa-buraco" e a inconsistência de toda e qualquer medida a longo prazo. 
O problema é que mesmo esse limiar de caos poderia não significar um momento de sublime transformação e foco na mudança: ou será que soa impossível que toda a "bomba" estoure na mão de um outro partido e que, graças a isso, o PT retorne "endeusado" ao Planalto só para piorar as coisas e nos transformar num comunismo fadado a maior fracasso do que o já que temos pela frente?
Aí esbarramos no que é, a meu ver, o maior problema do Brasil: a sua adoção à democracia como hoje o é. E sendo tal como o é, isso nada ajuda em nossa corrida contra o tempo.

Reescrever o texto ou reeducar o escritor?
A democracia, da forma como está constituída no país, é um erro crasso face à constituição social do país. A ideia é bonita, dá um ar nobre à Constituição Federal, mas há tempos a população caminha em total descompasso com o texto normativo magno da República.

                               

Paremos para pensar no seguinte cenário: por uma curiosidade fantástica do destino, o Brasil, massivamente, "erutize-se" e entenda que estamos no rumo errado. A postura seguinte seria qual? "Não vai ter Copa"? "Black blocs"? Jamais. A postura seria: reformule-se a forma de atuação e organização do Estado. Parece absurdo? 
Pergunte-se como os alemães se recuperaram após a 1º Guerra Mundial. 
Pergunte-se como os japoneses se ergueram no cenário pós-Segunda Guerra.
Isso para não citar outros países que são exemplos de organização e não tiveram grandes destaques nas páginas dos livros de História. Dúvidas? Indague sobre como é a vida de um finlandês, de um norueguês, de um dinamarquês, de um sueco...
"Nenhum deles é o Brasil". Exatamente. Por não sermos como os demais (leia-se: por não termos ainda percebido, em massa, o óbvio) não podemos esperar que se trilhe sucesso similar. É simples assim. A receita de melhoria já existe, e já existe há tempos. O que falta é um pouco de vontade desde os bilionários acionistas de grandes empresas até as humildes donas-de-casa de raciocinar 5 minutos fora do universo televisivo do BBB e similares, porque na mão de todos reside a oportunidade de iniciar a construção de algo novo (isso para manter ao máximo o modelo democrático em vigor ainda funcional).

Então... Para onde estamos indo, e de onde estamos partindo?
Muitos falam que nossas leis estão em descompasso com a sociedade; e alguns dizem que por isso, deveríamos refazer as leis. Algumas, correto, poderiam passar por uma alteração para maior praticidade, mas nunca, jamais, deve alguém enunciar que a lei deve ser refeita porque "o brasileiro não consegue cumprir".
Não vejo correto aduzir que a Copa é uma política de circo e o bolsa-família é o pão. Digo o seguinte: friamente, o próprio Brasil hoje é o pão e circo, não suas medidas internas - o Estado em si o é.
Isso tudo significa que nós já partimos do pressuposto de que enfrentamos tempos cada vez piores conforme os meses e anos passam, e que em algum momento deverá ser tomada a escolha que há muito deveria ser feita: aceitar que tudo é uma ilusão (incluindo o poder da mudança) e que de nada adianta sequer tentar fazer algo, ou iniciar uma verdadeira blitz ideológica por iniciativa própria e tentar disseminar ao máximo possível novas opiniões, de preferência mais compatíveis com um futuro minimamente desejável, algo que já é bem melhor do que temos à frente das terras tupiniquins se os rumos atuais não forem mudados.

Reflita sobre isso
Ninguém precisa de mudanças radicais para começar a ter melhor noção das coisas. Ler já é um bom começo, e trocar aquela revista de fofocas ou aquele programa inútil de porandubas da vida pessoal de celebridades por um livro de Olavo de Carvalho, por exemplo, é uma excelente pedida.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Posted by Victor Bastos |
Antes de começar: nem estou falando que isso é exclusividade brasileira.

Nosso "minúsculo ponto azul" flutuante no escuro mar universal resguarda exemplos inúmeros nos mais diversos países e sob as mais diversas culturas de um sentimento meio que no mesmo sentido.

Algumas ideologias pregam o antiamericanismo por associar o histórico norte-americano com atitudes arbitrárias, imperialistas e egocêntricas, guardando todo o planeta sob suas asas e considerando-se os donos do globo.

Outras ideologias enxergam nos norte-americanos figuras desonestas, que em eventos passados praticaram atos nefastos e que passaram "impunes" por crueldades praticadas. Geralmente neste caso os dois exemplos mais lembrados são os das guerras do Vietnã e Iraque.

Isso para não citar eventuais revanchismos, como os históricos decorrentes de conflitos (exemplo dos herdeiros do clima de tensão da Guerra Fria), rivalidades econômicas (alguns afirmam que isso se enquadra aos chineses - discordo), e várias outras situações que possuem de fato um evento associado ou uma base ideológica que permite, pelo menos, enumerar argumentos para se entender a razão daquele ponto de vista.

Em outras palavras, por aí as pessoas possuem alguma razão (ou pensamento para embasar) para se falar mal ou criticar. Tem uma lógica, ainda que discutível dependendo do ponto, por trás disso.

Daí, chego eu a algumas discussões em fóruns tupiniquins...

Ah, que graça. Como estamos bem servidos de sociólogos de boteco, não acham?

Cheguei a engrenar uma pequena discussão para pelo menos tentar entender alguma base de ponto de vista. O resultado? Parecia ter voltado aos episódios de Castelo Rá-Tim-Bum.

Era eu perguntando o porquê. E era o outro respondendo "porque sim". E era mais um entrando na conversa e dizendo a mesma coisa. E de novo. E de novo. E mais uma vez.

Até que surge um gato pingado que dá sinais de entrar pela mesma linha de raciocínio que eu tentei estabelecer - só não estendeu muito a conversa porque pelo visto ainda não tinha lido todas as notícias, disse que queria se informar. Uma resposta muitíssimo mais inteligente do que a da grande maioria que chegava lá para o típico discurso vazio que nem para palanque serve.

Essas minhas interações começaram ainda quando esquentaram as coisas lá pela península coreana. Foi impressionante a quantidade de opiniões pró-Coreia do Norte. O embasamento? "Por que só os EUA podem ter arma nuclear?". Não, não estou de sacanagem. Esse foi de longe o levantamento mais crítico que eu visualizei em muito tempo. Até que surgiu uma interessante pergunta: 

"Você acabou de se mudar e está tentando arrumar a casa, tentando pouco a pouco se livrar de preocupações externas. Daí, numa reunião de vizinhos, você descobre que um rapaz próximo da sua casa herdou dos parentes um discurso inflamado contra você e está tentando se armar, visando justamente a você. Seus vizinhos, nervosos, juntam os moradores mais amigos de todos da rua, e com isso decidem (com a sua aprovação) que precisam de algo que reprima a insistência desse 'meliante'. Ele fica ainda mais nervoso e agora ameaça você e seu amigo mais próximo. Dá pra viver em paz com isso?"

Muita gente acha ainda que os norte-americanos são uma máquina de guerra de vontade incessante de transformar catástrofes em lucros, e que querem dominar o mundo.

Desculpe, gente. Mas a Guerra Fria acabou já tem um tempinho.

Que são uma máquina de guerra ninguém discute: são sem dúvida os inimigos mais temidos do mundo, não pelo que possuem, mas exatamente pelo que eventualmente não saibamos sobre suas tecnologias bélicas. Mas vai me dizer que são fanáticos por guerra e querem se aproveitar da desgraça alheia? Podem até ter sido. Mas creio que isso morreu com o Iraque. 

Perguntem a qualquer americano se ele ou ela está ansioso por um conflito com a Coreia do Norte.

Perguntem a qualquer americano se ele ou ela está interessado em um novo 11 de setembro, ou, mais recentemente, se está interessado em se sentar na poltrona e descobrir que as cidades de sua nação estão passando o que Boston passou nos últimos dias.

Mas não. Sempre vai ter um para chegar e dizer brilhantes coisas como "a polícia americana é o retrato claro dessa sede se sangue: vão para matar". Pois é. Um abraço pra você que disse isso, porque há pouco confirmaram a informação de que o segundo suspeito das bombas foi capturado e está vivo, só foi ferido durante troca de tiros que ELE MESMO inventou frente à chegada das autoridades.

Agora pergunte ao Obama se ele tem o mínimo interesse em, pleno momento de recuperação econômica do Tio Sam, uma nova guerra bilionária.

E olha que as ameaças só estão aumentando. E o "sanguinolento" Tio Sam o que faz? Tenta acalmar ânimos, cancelando um dos seus raros (RARÍSSIMOS, até) testes de armamentos de defesa.

Lembro que um colega do curso do Direito, durante debates do II MUNdi em meu comitê, conclamava os norte-americanos de "O Grande Satã do Ocidente".

Ele ao menos estudou e tinha razões pra enumerar assim. E garanto que, nesse momento, se ele chegar a ler o que estou escrevendo, há de concordar comigo que há momentos e momentos na História americana.

O que não pode é falar sem base, sem argumento, sem vontade... Enfim, bancar o sociólogo de boteco é a pior coisa possível. Ninguém ganha. Acredite, ninguém.

E assim volto ao título do texto. Por que interpretar essas coisas como um retrato da falta do senso crítico e da consciência histórica? Eu respondo: porque é exatamente isso que é.

Existe uma razão pela qual eu não gosto de fofocar sobre a vida alheia, e isso gera vários contratempos, porque muitas vezes me vejo em situações cujos assuntos são fatalmente esses. Resultado: fico calado e acabam às vezes me achando antisocial. A razão disso tudo é: julgar os outros sem saber o que se passa de fato é, a meu ver, a maior perda de tempo e esforço de toda a existência humana.

Analogamente, vou aplicar isso a falar de outros países por falar. Sujeito fala sobre os EUA como se fossem eternos vilões. Vai ser com certeza o mesmo que vai, como acabei testemunhando uns tempos atrás, dizer que "advogado é a pior raça que tem. Que morram todos". Provavelmente vai ser o mesmo que vai dizer depois "esses árabes são todos loucos terroristas." E depois algo como "Aproveitem as bombas, Coreia do Norte, e joguem em Brasília!". O tipo de pessoa que assume a esfera da plena irresponsabilidade com o que diz, atestando sequer uma ignorância, mas sim uma alienação e um indivíduo em pleno processo de "desumanização", desarticulando todo o mérito de um discurso e seu papel, e ainda se orgulha disso.

Acho que nem cabe nenhuma observação minha, a não ser uma pergunta que deixo para todos:

É sério isso?